Conto: Um Crime de Final de Semana

 

Esperando dentro do carro pela última hora, a serenidade que Brooke sentia se dissipava. Ela não se preocupava; apenas precisava ver os resultados de seu plano. Ela e Jeff namoravam há três anos. Quando Brooke encontrou a jaqueta de couro daquela mulher no armário do quarto dele, foi insuportável imaginar todas as coisas que seu namorado e a aluna da universidade na qual ele trabalhava faziam, e por tanto tempo ela não percebeu. Aquela seria sua vingança.

Ela segurou a respiração quando Jeff estacionou seu carro na garagem. Brooke havia encontrado o ponto perfeito para observar do próprio carro sem parecer muito suspeita; ele sequer conseguiria vê-la. Ele carregou consigo seu equipamento de pesca para dentro da casa e fechou a porta da frente atrás de si. “Espero que tenha aproveitado seu final de semana”, Brooke pensou consigo mesma com um sorriso cínico. Ela também passou a se perguntar se ele encontraria o corpo antes de a polícia chegar lá, uma vez que a residência provavelmente já estaria tomada por um cheiro característico.

“Claro, agora ele está abrindo todas as janelas em vez de verificar de onde vem o cheiro. Ah, ótimo, a polícia está vindo!” Brooke se empolgou ao ouvir a sirene que há tanto esperava. Três oficiais saíram do veículo imponente e pararam em frente à casa de Jeff, atendendo a uma ligação anônima (de Brooke, naturalmente), que dissera ter reconhecido a mulher desaparecida sobre a qual os telejornais vinham noticiando. Maggie era uma das alunas de Jeff, e eles estavam se vendo em segredo.

- Hum, olá, o que posso fazer por vocês? – Jeff tinha um tom de voz confuso ao abrir a porta.

- Somos da Polícia de L.A. Você é Jeffrey Reed?

- Sim, sou eu.

- Estamos procurando por Margaret Davenport, uma de suas alunas. Ela está desaparecida desde a última sexta feira.

Brooke registrou cada enrijecer de músculos assim que Jeff assumiu uma postura preocupada e convidou os oficiais para entrar em sua casa. Ele não tinha a menor ideia de que, assim que começassem a fazer perguntas, sentiriam o odor de decomposição, e em uma rápida busca encontrariam o corpo de Margaret escondido no armário do quarto, ainda vestindo aquela jaqueta horrorosa.

A vizinhança estava silenciosa, era uma tarde agradável de domingo, e com isso Brooke conseguiu ouvir o grito abafado de Jeff – a luz do seu quarto estava acesa, eles haviam encontrado o corpo. A equipe ligaria para o perito criminal, que chegaria à conclusão de que a jovem fora assassinada na noite de sexta feira, entre 18h e 19h, com um tiro na cabeça. Jeff havia saído logo após esse horário para uma viagem de pesca, dormira em um hotel na sexta e passara o final de semana fora.

Brooke comprara a arma com dinheiro vivo na semana anterior; ela seria encontrada no carro de Jeff, o recibo da compra na lixeira dos fundos de sua casa. No celular da vítima havia todas as mensagens entre ela e seu amante. O hacker contratado por Brooke fizera o trabalho completo, apagando as mensagens em que Jeff dizia pretender terminar com a namorada para ficar com Maggie. A equipe criminal encontraria mensagens forjadas, cujo conteúdo provava que o professor vinha ameaçando sua aluna caso ela expusesse a relação dos dois. Se isso tudo não fosse o suficiente, Brooke garantira ao marcar todos os pontos necessários com as digitais do canalha para incriminá-lo.

O sorriso da mulher tornou-se maior quando ela viu a porta ser aberta outra vez. O corpo sendo removido, os policiais vindo atrás, um deles escoltando um Jeff algemado e olhando para o chão com perplexidade, nojo, desespero. Brooke se deleitou com o espetáculo. Seu ex-namorado teria aquilo que merecia por todas as mentiras, a humilhação, por simplesmente achar que era mais inteligente que ela, presumindo que poderia enganá-la. Se ele não pagasse por tudo, bom, Brooke não estaria mais ali para ver o que quer que se sucedesse. E o que ela havia feito com Margaret? Bom, aquilo era apenas um dano colateral.

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